Domingo, 29 de Setembro de 2013

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publicado por Susan às 19:40

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Domingo, 15 de Setembro de 2013

Pai

Sinto a necessidade de expressar, de falar sobre aquilo que me vai na cabeça neste preciso momento e isso começa com uma parte da minha vida que eu ainda não contei aqui. Não é nada de especial, tenho a certeza que muitas pessoas têm ou tiveram uma situação familiar semelhante à minha.

Sempre tive uma vida normal e posso dizer que até hoje sempre tive tudo aquilo que quis, os meus pais sempre fizeram os possíveis e impossíveis para não me faltar nada mas durante este tempo todo o meu pai sempre foi um pouco ausente derivado ao seu emprego, durante 14 anos foi gerente de uma multinacional e como tal não lhe sobrava muito tempo para estar com a familia, ele adorava aquilo que fazia e por isso deixou-se embrenhar tanto no seu trabalho que apesar de dar tudo à sua família em questões materiais, falhava um pouco no sentido de não nos dar a sua presença: muitas vezes não jantava em casa, não tinha um horário definido e como as lojas que geria estavam sempre em centros comerciais, tinha que ficar até à hora do fecho para garantir que tudo estava em ordem, passavam-se semanas e ele não tirava uma única folga e fazia isto por alta recriação porque a empresa na altura não lhe pagava esses dias, eu tinha que andar a pedinchar para passar algum tempo com ele por telefone ou então escrevia em papelinhos (isto quando já sabia escrever alguma coisa) e deixava na mesa de entrada, tinha direito a duas semanas de férias e só tirava uma e quando chegava a hora de supervisionar a montagem de lojas novas (algo que demorava cerca de 2 semanas) chegava sempre por volta da madrugada em casa e nesse espaço de tempo eu lembro-me que dizia à minha mãe que já não me lembrava bem da cara do meu pai. Eu cresci assim neste ambiente em que a minha mãe o chamava constantemente à atenção mas nada mudava e como tal o meu pai perdeu grande parte do meu crescimento, por isso, por volta dos 9 até aos 12 anos, passei por aquela fase chata da pré-adolescência e tornei-me assim um pouco "revoltada" e dirigia toda a minha agressividade para ele e o mais engraçado é que eu nem sequer sabia, e ainda hoje não consigo explicar exactamente o porquê dessas minhas atitudes... a minha mãe diz que eu reagia assim por causa do facto de ele estar sempre ausente mas eu acho que é uma estupidez reagir assim por causa disso porque há imensa gente com situações similares e/ou piores e não reagem assim... mas entendo que não somos todos iguais.

Por volta dos meus 14 anos, o meu pai perdeu o seu emprego e viu-se obrigado a emigrar para outro país e isto foi algo que abalou muito a nossa família, falavámos todos os dias ao telefone mas não nos vimos durante o primeiro ano porque o dinheiro não dava para a viagem e enquanto a minha mãe chorava e desabafava eu dizia que já estava habituada a não o ter por perto e que podia simplesmente imaginar que ele continuava com o seu horário não definido mas no fundo até me importava um pouco, simplesmente aprendi a pôr isso num canto.

Já lá vão oito anos e o meu pai continua fora do país, costuma vir a Portugal no Natal e nos meus anos, eu e a minha mãe continuamos por cá por causa dos meus avós que já têm alguma idade e precisam de alguém que olhe por eles e também porque eu ainda estou a estudar, durante estes 8 anos aconteceram muitos altos e baixos e num desses "baixos" cheguei a ter uma depressão ligeira que afectou a minha saúde, para além disso, a vida também nos pregou outras partidas que nos abalaram. 

Actualmente posso dizer que a minha relação com o meu pai é um pouco distante, ele de certa forma parou no tempo e continua a ver-me como uma menina pequena e eu não sei lidar com ele quando ele está por perto: distancio-me e quando ele quer envolver-se mais na minha vida eu afasto-o com as minhas palavras frias e logo a seguir arrependo-me imenso daquilo que disse mas parece que a palavra "Desculpa" fica-me presa na garganta e por isso não sai. No fundo acho que são essas alturas em que aquela miúda de 11, 12 anos sai para fora e tenta controlar a situação à sua maneira, ou seja, da forma mais estúpida, egoísta e infantil que existe e o pior é que eu não sei como acabar com estas situações que só causam tristeza e mágoa porque afinal de contas, não é com ele que eu não sei lidar.... mas sim comigo mesma quando ele está presente.

Por isso, escrevo aqui aquilo que eu nunca consigo dizer-lhe cara a cara: Desculpa pai, por ser estúpida, arrogante, egoísta, infantil e mal-criada quando tudo aquilo que fazes é para o meu bem-estar e eu simplesmente não consigo demonstrar o quanto eu gosto de ti e o quanto eu sinto a tua falta, posso não me lembrar que tenho saudades tuas todos os dias porque tento pôr isso de lado e guardo esse sentimento numa gaveta bem funda mas quando sinto, vem assim de repente e é avassalador. Obrigada por seres paciente, por me fazeres as vontades mesmo nas alturas mais críticas e quando eu menos mereço e apesar de não estares sempre presente eu sei que posso sempre contar contigo.

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publicado por Susan às 18:58

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