Sinto a necessidade de expressar, de falar sobre aquilo que me vai na cabeça neste preciso momento e isso começa com uma parte da minha vida que eu ainda não contei aqui. Não é nada de especial, tenho a certeza que muitas pessoas têm ou tiveram uma situação familiar semelhante à minha.
Sempre tive uma vida normal e posso dizer que até hoje sempre tive tudo aquilo que quis, os meus pais sempre fizeram os possíveis e impossíveis para não me faltar nada mas durante este tempo todo o meu pai sempre foi um pouco ausente derivado ao seu emprego, durante 14 anos foi gerente de uma multinacional e como tal não lhe sobrava muito tempo para estar com a familia, ele adorava aquilo que fazia e por isso deixou-se embrenhar tanto no seu trabalho que apesar de dar tudo à sua família em questões materiais, falhava um pouco no sentido de não nos dar a sua presença: muitas vezes não jantava em casa, não tinha um horário definido e como as lojas que geria estavam sempre em centros comerciais, tinha que ficar até à hora do fecho para garantir que tudo estava em ordem, passavam-se semanas e ele não tirava uma única folga e fazia isto por alta recriação porque a empresa na altura não lhe pagava esses dias, eu tinha que andar a pedinchar para passar algum tempo com ele por telefone ou então escrevia em papelinhos (isto quando já sabia escrever alguma coisa) e deixava na mesa de entrada, tinha direito a duas semanas de férias e só tirava uma e quando chegava a hora de supervisionar a montagem de lojas novas (algo que demorava cerca de 2 semanas) chegava sempre por volta da madrugada em casa e nesse espaço de tempo eu lembro-me que dizia à minha mãe que já não me lembrava bem da cara do meu pai. Eu cresci assim neste ambiente em que a minha mãe o chamava constantemente à atenção mas nada mudava e como tal o meu pai perdeu grande parte do meu crescimento, por isso, por volta dos 9 até aos 12 anos, passei por aquela fase chata da pré-adolescência e tornei-me assim um pouco "revoltada" e dirigia toda a minha agressividade para ele e o mais engraçado é que eu nem sequer sabia, e ainda hoje não consigo explicar exactamente o porquê dessas minhas atitudes... a minha mãe diz que eu reagia assim por causa do facto de ele estar sempre ausente mas eu acho que é uma estupidez reagir assim por causa disso porque há imensa gente com situações similares e/ou piores e não reagem assim... mas entendo que não somos todos iguais.
Por volta dos meus 14 anos, o meu pai perdeu o seu emprego e viu-se obrigado a emigrar para outro país e isto foi algo que abalou muito a nossa família, falavámos todos os dias ao telefone mas não nos vimos durante o primeiro ano porque o dinheiro não dava para a viagem e enquanto a minha mãe chorava e desabafava eu dizia que já estava habituada a não o ter por perto e que podia simplesmente imaginar que ele continuava com o seu horário não definido mas no fundo até me importava um pouco, simplesmente aprendi a pôr isso num canto.
Já lá vão oito anos e o meu pai continua fora do país, costuma vir a Portugal no Natal e nos meus anos, eu e a minha mãe continuamos por cá por causa dos meus avós que já têm alguma idade e precisam de alguém que olhe por eles e também porque eu ainda estou a estudar, durante estes 8 anos aconteceram muitos altos e baixos e num desses "baixos" cheguei a ter uma depressão ligeira que afectou a minha saúde, para além disso, a vida também nos pregou outras partidas que nos abalaram.
Actualmente posso dizer que a minha relação com o meu pai é um pouco distante, ele de certa forma parou no tempo e continua a ver-me como uma menina pequena e eu não sei lidar com ele quando ele está por perto: distancio-me e quando ele quer envolver-se mais na minha vida eu afasto-o com as minhas palavras frias e logo a seguir arrependo-me imenso daquilo que disse mas parece que a palavra "Desculpa" fica-me presa na garganta e por isso não sai. No fundo acho que são essas alturas em que aquela miúda de 11, 12 anos sai para fora e tenta controlar a situação à sua maneira, ou seja, da forma mais estúpida, egoísta e infantil que existe e o pior é que eu não sei como acabar com estas situações que só causam tristeza e mágoa porque afinal de contas, não é com ele que eu não sei lidar.... mas sim comigo mesma quando ele está presente.
Por isso, escrevo aqui aquilo que eu nunca consigo dizer-lhe cara a cara: Desculpa pai, por ser estúpida, arrogante, egoísta, infantil e mal-criada quando tudo aquilo que fazes é para o meu bem-estar e eu simplesmente não consigo demonstrar o quanto eu gosto de ti e o quanto eu sinto a tua falta, posso não me lembrar que tenho saudades tuas todos os dias porque tento pôr isso de lado e guardo esse sentimento numa gaveta bem funda mas quando sinto, vem assim de repente e é avassalador. Obrigada por seres paciente, por me fazeres as vontades mesmo nas alturas mais críticas e quando eu menos mereço e apesar de não estares sempre presente eu sei que posso sempre contar contigo.
Ultimamente a minha vida tem sido assolada por situações complicadas: problemas familiares, uma operação eminente e ainda a pressão que se avizinha do último ano da faculdade. Sinto-me mesmo muito frustrada e por isso dou comigo com imensa vontade de desatar a chorar... parece que estou num túnel escuro em que não há uma réstia de luz e eu não posso fazer nada senão continuar a andar, basicamente sinto-me impotente perante isto tudo.
Só quero que esta fase passe o mais depressa possível para um dia poder olhar para trás e poder respirar de alívio.
Aprendi ontem a muito custo que não posso dar as coisas como garantidas, quando menos espero acontece algo que me deixa completamente desfeita, algo que eu nunca pensei que me pudesse acontecer... não é o fim do mundo mas custa-me muito encarar a realidade da situação e ter que perceber que por vezes por mais que me esforçe para alcançar os meus objectivos, as coisas simplesmente não acontecem e eu tenho que viver com isso e seguir em frente.
O facto é que foi uma lição e eu espero que mais tarde consiga tirar algo de bom disto tudo.
Sinto-me mais desprendida de tudo o que me rodeia, a minha atenção vai só para aquilo que me compete e o resto é paisagem. Não consigo encontrar o mesmo sentimento de pertença e dedicação que eu tinha antes, sinto-me a ficar fria e olho para a pessoa em que me estou a tornar e consigo ver que aquela pessoa não tem bem as suas prioridades definidas, com ela é tudo ou nada e não há um meio termo, foca-se no profissionalismo e deixa o resto para trás e depois sente-se sufocada e não encontra maneira de respirar... há coisas que devem mudar, tenho que relaxar, deixar de estar sempre tensa... basicamente é viver a vida e aproveitá-la porque quando der por mim já tenho 50 anos e não aproveitei nada.
Ás vezes só me apetecia desaparecer para algum sítio onde não houvesse ninguém nem nada que me aborrecesse porque actualmente isto anda numa roda viva e eu só queria um pouco de sossego.
Olho para as minhas amigas e às vezes gostava de ter as preocupações delas, namorados que não prestam, pais que não as deixam sair sempre que querem, etc, preferia mesmo ter essas preocupações porque são coisas normais para a idade em que nos encontramos, as minhas preocupações são muito mais graves e desgastantes e não me deixam pensar como deve ser.
Hoje fiz a minha última frequência, agora tenho duas semaninhas livres para descansar e para fazer o que quiser. Cheguei bem cedo à faculdade para estudar e para ver se ele aparecia porque sentia falta de ouvir a voz dele, enfim... ele apareceu, mas tratou logo de se agarrar a uma criatura que anda por lá e dá para ver que há, houve ou vai haver ali qualquer coisa... se fiquei incomodada? Sim, até fiquei, ando a pensar nisso o dia todo mas eu não posso fazer nada e até acho que mereço melhor, acho que ele não é a melhor pessoa para entrar na minha vida.
É difícil tentar esquecer alguém que vemos praticamente todos os dias, que fala connosco, que sorri para nós e que até se senta ao nosso lado. Detesto que o meu dia só comece quando ele chega e detesto ainda mais quando vou para casa chateada, porque dou demasiada importância a pequenos pormenores, que para muitas pessoas se calhar nem querem dizer nada... para mim quer dizer tudo.
Eu não o amo e nem sequer consigo imaginar-me a namorar com ele, o que eu sinto não passa de uma atracção e eu não quero que esse sentimento evolua.
Gostava que as coisas voltassem a ser como eram no inicio, era tudo muito mais fácil quando ele não me dirigia a palavra, quando ele nem sequer olhava para mim. Preciso de me manter afastada durante uns tempos para por as minhas ideias em ordem e concentrar-me na minha vida, porque ele deixa-me completamente desnorteada quando está ao pé de mim e isto não pode continuar.
Entrei em época de exames e estou morta de medo, tenho que organizar bem o meu tempo de estudo.
Os exames que mais me assustam são o de Estatistica e o de Metodologia, são cadeiras muito complicadas e tem que se saber muito bem a matéria. Vamos ver como corre :D
Para mim, este ano passou a correr, nem dei por ele.
Não posso dizer que tenha progredido muito este ano pois não vejo grandes diferenças a nível psicológico. Acho que o que marcou mais a minha vida neste ano foi a entrada para a faculdade: passei de uma vida sossegada para uma vida super ocupada, não tenho mãos a medir com tantos trabalhos e testes, fora isso, eu continuo a mesma.
Já vivi este filme centenas de vezes e não quero mesmo vivê-lo outra vez.
Não quero sair magoada de uma história que nem sequer teve um começo, sinto-me apertada e não consigo deixar de pensar "E se...?" Mas essa pergunta tem sempre uma resposta certa bem lá no fundo dos meus pensamentos, eu é que tento disfarçá-la para viver mais um pouco o meu conto de fadas...
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